9 de dezembro de 2013

A visão da Síndrome de Asperger pelo filme "Adam"

      Adam” é um filme de 2009 que retrata a história de um portador da Síndrome de Asperger, (interpretado por Hugh Dancy) que acaba de perder o pai. Paralelamente, ele começa a desenvolver um relacionamento com sua vizinha, Beth (Rose Byrne) e junto com ela, nós os espectadores também aprendemos um pouco mais sobre a síndrome.


                         
O filme trata o Asperger de forma até bem didática, pois o próprio Adam tem consciência de que possui a Síndrome, e explica em diversos momentos do filme como a sua percepção do mundo é diferente das outras pessoas. De acordo com Nicolau, a Síndrome de Asperger faz parte do espectro autista e é caracterizada por déficits de interação social e padrões de comportamento restritos e estereotipados, porém não há atrasos significativos na linguagem e no desenvolvimento cognitivo dos portadores.     
         No entanto, mesmo não apresentando deficiências estruturais na linguagem, as pessoas com Asperger podem por vezes ter uma compreensão verbal muito concreta, ou seja, elas demonstram dificuldades nos significados literais e implícitos, na prosódia (ou seja, a entonação), na manutenção de diálogos, no entendimento de trocadilhos, entre outros. As dificuldades dessas pessoas estão relacionadas, segundo Roballo (2001), a linguagem que se denomina pragmática e social, como pode ser visto em alguns diálogos no filme “Adam”:

Beth: “Como vai a procura por trabalho?”
Adam: “Muitos já foram ocupados. Ainda estou recebendo respostas”
Beth: "Tenho certeza de que vai achar o emprego certo”
Adam: “Como pode ter certeza disso”?
Beth: “Quer dizer, espero que ache o emprego certo”.
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Adam (em uma festa): “Comprar um telescópio é uma decisão complicada. Deve focar em seus interesses”
Mulher: “Sem trocadilhos”
Adam: “O quê”?
Mulher: “Foco”?
Adam: “Ah, certo”.

“As pessoas com Síndrome de Asperger geralmente têm elevadas habilidades cognitivas - pelo menos Q.I. normal, às vezes indo até às faixas mais altas (TEIXEIRA, p.02). No entanto, mesmo com boas condições intelectuais, é possível perceber uma grande dificuldade em interpretar e aprender as capacidades da interação social e emocional com os outros. Também há dificuldade em atribuir estados intencionais e predizer o comportamento das pessoas.
       Uma das teorias da psicologia que se preocupa com a explicação desses fenômenos é a teoria da mente. Esta teoria observa que as pessoas possuem uma capacidade de inferir sobre os próprios estados mentais e os das outras pessoas. No caso do autismo, ocorre um déficit nessa capacidade, e de acordo com estudos citados por Almeida (2010), utilizando neuroimagem funcional, o córtex frontal parece estar relacionado a esta habilidade. Outros estudos também apontam a participação de neurônios-espelho nesse funcionamento cognitivo, pois eles permitem “não apenas a compreensão direta das ações dos outros, mas também das suas intenções, o significado social de seu comportamento e das suas emoções” (LAMEIRA, GAWRYSZEWSK E JUNIOR, 2006).
Por causa desse déficit, pode-se perceber nos autistas certa falta de capacidade de “atribuir estados mentais — desejos, crenças, emoções, intenções, sentimentos, atitudes, pontos de vista — a outros e a si mesmos, e de perceber e predizer comportamentos relativamente a esses mesmos estados” (PACHECO, 2012). 
Adam comenta durante o filme que possui “cegueira mental” desde criança e por isso não consegue entender o ponto de vista e os sentimentos das outras pessoas. Quando ficou mais velho, teve que aprender a perguntar o que os outros estão pensando para melhor compreendê-los.
De acordo com Furtado (2009), é possível aprender a interpretar expressões não-verbais, emoções e interações sociais pelas pessoas que possuem a Síndrome de Asperger e isso melhora suas interações sociais e aproximações com os outros. Em uma das primeiras cenas do filme, Beth passa por Adam carregando um carrinho de compras pesado e nota-se a falta de capacidade de Adam de perceber que ela estava precisando de ajuda. Isso é superado ao longo do filme, quando em uma das últimas cenas, ele ajuda uma mulher a carregar suas coisas, sem que ela pedisse seu auxílio.
Uma das características da Síndrome de Asperger de acordo com Teixeira é:

A sua peculiar idiossincrática área de “interesse especial”. Quando as crianças entram para a escola, ou mesmo antes, elas mostrarão interesse obsessivo numa determinada área como a matemática, aspectos de ciência, leitura (alguns têm histórico de hipelexia – leitura rotineira em idade precoce) ou algum aspecto de história ou geografia, querendo aprender tudo quanto for possível sobre o objecto e tendendo a insistir nisso em conversas e jogos livres (p.06).

Adam tem um particular interesse em temáticas relativas ao espaço, sendo este um dos assuntos mais falados por ele durante o filme. Ele tem inclusive uma roupa de astronauta e um planetário dentro de sua casa, além de muito conhecimento sobre o tema, o que o leva a trabalhar em um observatório.
                                  


            De acordo com estudos, se comparados a outras formas de autismo, as crianças com o Asperger são mais aptas a crescer e serem mais independentes quanto a família, casamento, emprego, entre outros. “Os adultos tornam-se muito talentosos em suas áreas de interesse, e podem assim até ocupá-los na área de sua profissão” (FURTADO, 2009, p.34).


Trailer do filme:




Título Original: Adam
Direção: Max Myer
Ano: 2009
Duração: 99 minutos
Origem: Estados Unidos


REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. Avaliação neuropsicológica de crianças e adolescentes com Autismo e outros Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, 2010. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/36999/000788262.pdf?sequence=1> Acessado em: 2013

FURTADO, S. R. M. M. Síndrome de Asperger: perspectivas no desenvolvimento. Disponível em: <http://www.bib.unesc.net/biblioteca/sumario/000041/000041D3.pdf> Acessado em: 2013.

LAMEIRA, A.P; GAWRYSZEWSK, L. G; JUNIOR, A. P. Neurônios Espelho, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusp/v17n4/v17n4a07.pdf> Acessado em: 2013.

NICOLAU, P. F. M. Psiquiatria geral. Disponível em: <http://www.psiquiatriageral.com.br/dsm4/sub_index.htm> Acessado em: 2013.

PACHECO, A. F. Teorias Neuropsicológicas: Relação com a Comunicação e a Linguagem no Autismo, 2012. Disponível em: <http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/3818/1/%28Pacheco%2c%20AF%29%20Teorias%20neuropsicol%C3%B3gicas%20-%20Rela%C3%A7%C3%A3o%20com%20a%20comu.pdf> Acessado em: 2013.

ROBALLO, S. O outro lado da síndrome de Asperger, 2001. Disponível em: <http://www.ucb.br/sites/100/165/TeseseDissertacoes/OoutroladodasindromedeAsperger.pdf> Acessado em: 2013.

TEIXEIRA, P. Síndrome de Asperger. Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0254.pdf> Acessado em: 2013.

Um comentário:

  1. Muito bom trazer novas discussões e links de filmes para o blog. Questão: "faz parte do espectro autista", quer dizer que o portador desta síndrome é tb um autista? Pensei tb que poderia ser bom fazer a especificação do filme, com diretor, ano, duração, nos padrões comumente feitos para a sinopse técnica.

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