13 de dezembro de 2013

“Temple Grandin” – O autismo através do tempo

O filme que será usado hoje para trazermos mais informações sobre o autismo foi lançado em 2010 e conta a história verídica de Temple Grandin. Diagnosticada com autismo aos 4 anos em 1951, época em que ainda não existiam estudos aprofundados sobre o transtorno, Temple foi dada quase como um "caso perdido" pelo médico procurado pela sua mãe. Indagado acerca dos possíveis tratamentos, o médico informa que Temple provavelmente nunca irá falar e que, na ausência de tratamentos existentes, o melhor a se fazer é optar pela internação.


O nome autismo foi mencionado pela primeira vez em 1911 por Bleuler para se referir a crianças com comportamentos que apresentavam rupturas com a realidade, os quais dificultavam ou impossibilitavam a comunicação. Já em 1943, Kanner usa a mesma definição com o nome de “Distúrbios Autísticos de Contato Afetivo” para descrever 11 crianças que tinham em comum a inabilidade em estabelecer contato afetivo e interpessoal. Um ano depois, Asperger, seguindo a mesma linha de pensamento de Kanner, passa a chamar essas características de ‘Psicopatia Autista’. O autismo continuou sendo visto como uma psicose precoce, aproximadamente, até a década de 70 (GADIA, TUCHMAN & ROTTA, 2004).
Nos anos 50 e 60 a sociedade compartilhava a ideia de que o autismo era causado por mães que não davam atenção e afeto necessários para o desenvolvimento normal da criança, essas mães eram conhecidas como “mães geladeiras” (BANDIM, 2010). No filme isso é bem claro, pois o diagnóstico de Temple foi dado exatamente no período em que essa teoria era usada pelos médicos e compartilhada pela sociedade em geral. Depois de fazer algumas perguntas sobre o brincar e sobre a linguagem de Temple, que aos quatro anos ainda não havia falado, o médico dá o diagnóstico, e diz que Temple tem “esquizofrenia infantil”, deixando claro o caráter psicótico do autismo na época. Além disso, o médico afirma que não há tratamento, que ela provavelmente nunca irá falar e que a melhor coisa a fazer é optar pela internação.


Há na psicologia a Teoria do Apego que aborda bem o papel da mãe/cuidador no processo de desenvolvimento da criança. Desde o nascimento, o bebê necessita de cuidados para a sua sobrevivência. Assim, aos olhos do cuidador, a criança tem a possibilidade de conhecer a realidade externa, explorar o ambiente e, ao perceber algo perigoso e/ou assustador, passa a buscar proximidade com o cuidador que a protege, dando-lhe a sensação de segurança e proteção. Esse cuidador em geral, mas não necessariamente, é a mãe. Barstad (2013) afirma que “se as relações de apego funcionam de forma ideal, o indivíduo aprende que a distância e a autonomia estão relacionadas com proximidade e confiança em outros (p. 16)”.
Mesmo diante da importância da relação mãe-bebê a teoria da “mãe geladeira” foi completamente abandonada e na década de 70, o pesquisador Ritvo abole o caráter psicótico do autismo, passando a considerá-lo um transtorno ligado ao desenvolvimento. A partir daí várias mudanças ocorreram no campo dos estudos sobre o autismo: a maioria dos centros terapêuticos abandonaram as terapias de orientação psicanalítica passando a adotar as perspectivas pedagógicas e comportamentais; os Manuais de Diagnóstico e Estatística (DSM) passam a se aprofundar no estudo definindo sintomas, formas de diagnóstico, características do portador do autismo; etc. Mais detalhes sobre essas características podem ser encontrados nas publicações que compõem esse blog.
            Outro aspecto importante do filme é referente à linguagem de Temple, que, assim como o personagem do filme “Adam” , possui uma compreensão concreta da linguagem, ou seja, ela tem dificuldades para entender ironias, metáforas e piadas. E isso se estende ao entendimento das expressões faciais das pessoas. Em uma passagem do filme, por exemplo, a tia de Temple diz que já é hora de dormir, pois na fazenda todos acordam com o galo, e isso levou Temple a imaginar todos no telhado acordando com um galo.


Pode ser vista também a grande capacidade cognitiva para a inteligência espacial e memória fotográfica que Temple possui; no filme ela afirma que pensa com imagens e que as conecta (o que pode ser observado em vários momentos do filme). Temple consegue fazer cálculos só de olhar, desenvolveu a “máquina de abraço” (baseando-se em uma máquina usada com o gado), reproduziu um experimento na faculdade e se colocou no lugar do gado para entender o que os faziam mugir tão alto.
Bandim (2013) afirma que muitas pessoas compartilham a ideia de que o autismo torna o portador inteligente, mas isso é feito de forma inadequada visto que não há autismo de alto funcionamento, o que existe são pessoas com alto funcionamento cognitivo portadoras de autismo, ou seja, alguns autistas possuem a inteligência preservada. Já outros podem possuir grande potencial em habilidades específicas e deficiência em outras áreas, esse é o caso da Temple que reproduz todo o conteúdo de uma página olhando só uma vez, mas ao mesmo tempo não consegue entender o que tais palavras querem dizer.
Quanto mais rápido o diagnóstico for realizado, melhor para o paciente. O ambiente destinado às crianças que possuem autismo deve ser otimizado, levando em consideração todas suas dificuldades sensoriais, motoras e verbais. 
Não concordando com o que foi dito pelos médicos, a mãe de Temple sempre buscou formas de socializar sua filha que variavam desde práticas de exercícios linguísticos em casa, colocando-a posteriormente na escola, até trabalhos prestados na fazenda da sua tia no período das férias. Temple foi para a faculdade e concluiu seu PhD em engenharia agropecuária, revolucionando a forma de manejo com o gado e quebrando alguns estereótipos da época. Temple diz que a família sempre a tratou como diferente, mas nunca como inferior.

Título Original: Temple Grandin
Direção: Mick Jackson
Ano: 2010
Duração: 107 minutos
Origem: Estados Unidos

Referências:
BANDIM, J. M. Autismo: Uma abordagem prática. Recife: Bagaço, 2011.

GADIA, C. A.; TUCHMAN, R.; ROTTA, N. T. Autismo e doenças invasivas de desenvolvimento. Jornal de Pediatria, v.80, n.2, p.83-94, 2004. 

BARSTAD, M. G. Do Berço ao Túmulo: A Teoria do Apego de John Bowlby e os estudos de apego em adultos, 2013. Disponível em: <http://www.institutoentrelacos.com/Teoria%20do%20apego%20-%20Mariana%20Bastard.pdf> Acessado em: 2013.

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