11 de fevereiro de 2014

Neurofeedback e Autismo

            Não é novidade para ninguém que vivemos atualmente em um período de intensas modificações e desenvolvimento tecnológico. Na área da saúde, esse avanço tecnológico tem possibilitado o surgimento de novos instrumentos que auxiliam tanto no diagnóstico quanto no tratamento de diversas doenças. O neurofeedback é uma dessas inovações tecnológicas que, apesar de não ser muito conhecida, constitui uma ferramenta promissora para minimizar alguns dos sintomas de várias desordens neurológicas, psiquiátricas, psicológicas e do desenvolvimento, incluindo o autismo.

Mas afinal, o que é neurofeedback?

Antes de discutirmos sobre o que é o neurofeedback em si, é importante deixar claro que o funcionamento do cérebro ocorre por meio de pequenas descargas elétricas entre células nervosas, denominadas neurônios. Essas descargas elétricas dão origem a ondas cerebrais e influenciam o nosso comportamento e orientação no mundo.
Dito isto, o neurofeedback é uma técnica não invasiva que busca, por meio do treinamento, reestabelecer um equilíbrio dos padrões de ondas cerebrais e promover mudanças no modo de funcionamento do organismo (DIAS, 2010).  Em outras palavras, essa técnica permite, além de detectar a atividade elétrica do cérebro, regular os padrões de onda que estão alterados e promover mudanças comportamentais através do treinamento direto do cérebro..


Como funciona? 

Fonte: http://autism-nutrition.com/autism-neurofeedback-training

            O neurofeedback funciona da seguinte forma: eletrodos são colocados em lugares específicos do couro cabeludo do paciente, o que permite detectar a atividade elétrica do cérebro que pode ser visualizada na tela de um computador em tempo real. O profissional então treinará a pessoa, através de jogos computacionais ou de videogames, por exemplo, a aumentar ou a diminuir a produção de ondas cerebrais onde o eletrodo está fixado, promovendo assim, alterações comportamentais e emocionais. 

Assim que uma criança aprende a controlar e a melhorar os padrões de ondas cerebrais, as pontuações dos jogos aumentam e o sucesso [nessa atividade] ocorre. A única maneira da criança obter sucesso nos jogos é melhorar as suas funções de ondas cerebrais (COBEN, LINDEN E MYERS, 2009, p. 92. Livre tradução).
          
            Neto (2012) acrescenta que o que está sendo treinado, na verdade, no caso do neurofeedback é o funcionamento das conexões que ocorrem entre os neurônios. Essas conexões podem ser alteradas devido à capacidade que o nosso cérebro possui em realizar modificações adaptativas. “Essa dinâmica que se caracteriza por reorganizações e mudanças no cérebro, devidas às experiências ou lesões, é conhecida por plasticidade cerebral ou neuroplasticidade” (GAZZANIGA & HEATHERTON, 2005. In NETO, 2012, p. 265). 

Indicações

    Segundo o site das psicólogas Flávia Muratori e TâniaMuratori, a terapia do neurofeedback pode ser utilizada nos seguintes casos:
  • Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH;
  • Problemas de aprendizagem (como a Dislexia e Discalculia);
  • Perturbações do desenvolvimento;
  • Controle de crises convulsivas na epilepsia;
  • Prevenção de cefaleias de tensão e enxaquecas;
  • Ansiedade e estresse;
  • Depressão e outros transtornos do humor;
  • Perturbações do sono e etc.
Neurofeedback e autismo

            Coben, Linden e Myres (2009), afirmam que através do neurofeedback as pessoas aprendem a inibir padrões de ondas cerebrais que são produzidas de forma excessiva (gerando efeitos negativos), diminuindo ou aumentando essas frequências alteradas (produzindo efeitos positivos). Esses efeitos negativos estão relacionados aos sintomas presentes nos diversos problemas neurológicos, psiquiátricos, psicológicos e do desenvolvimento. Os efeitos positivos, por outro lado, dizem respeito à sensação de bem-estar decorrentes da minimização dos sintomas. No caso do autismo especificamente, estudos apontam que o uso dessa tecnologia podem melhorar alguns dos sintomas.

Alguns estudos:
  • Revisão da literatura feita por Coben, Linden e Myres (2009) – estudos realizados entre 1995 a 2005 com pacientes autistas indicam melhora nas habilidades atentivas, no comportamento motor, impulsividade, na socialização, comunicação, desempenho acadêmico/escolar e etc. (Livre tradução).
  • Thompson, Thompson e Reid (2009) – O estudo realizado com pessoas que possuem a Síndrome de Asperger demostrou que o neurofeedback produz efeitos positivos, na medida em que ajudam a diminuir os sintomas de dificuldade de atenção e ansiedade, além de melhorar habilidades acadêmicas, intelectuais e sociais.  (Livre tradução).
  • Sichel, Fehmi e Goldstein (1995) - Esse estudo de caso realizado com um menino autista de oito anos revelou que após várias sessões de neurofeedback, o mesmo demonstrou melhoras significativas na comunicação (apesar de sua verbalização continuar limitada); passou a expressar mais afeição e estabelecer contato visual; passou a atentar e reagir à presença dos outros; apresentou melhoras no sono; diminuição dos sintomas de ansiedade, dos comportamentos estereotipados e dores de cabeça. Ele também passou a participar mais de brincadeiras que usavam a imaginação. (Livre tradução).

            É importante ressaltar que, apesar desses estudos apontarem os possíveis efeitos positivos trazidos pelo uso do neurofeedback, eles não são conclusivos. É necessário que sejam realizadas novas investigações, principalmente na população brasileira, visto que a maioria das publicações sobre o assunto foram produzidas fora do Brasil. Contudo, não restam dúvidas de que o uso desta tecnologia constitui um campo promissor para o tratamento de alguns dos sintomas do autismo. 



Referências:
COBEN, R.; LINDEN, M.; MYERS, T. E.  Neurofeedback for Autistic Spectrum Disorder: A Review of the Literature. Appl Psychophysiol Biofeedback, Spring, 2009.

DIAS, A. M. Tendências de neurofeedback em psicologia: revisão sistemática. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 15, n. 4, p. 811-820, 2010.

MURATORI, F; MURATORI, T. O que é Neurofeedback? Disponível e: <http://psiconeuro.wordpress.com/o-que-e-neurofeedback/>. Acessado em: fevereiro de 2014.


NETO, J. D. O Neurofeedback como Recurso Neuropsicoterápico para o Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade e Impulsividade. Revista FSA – Teresina, n° 9, 2012.

SICHEL, A. C.; FEHMI, L. G.; GOLDSTEIN, D. M.  Positive Outcome with Neurofeedback Treatment in a Case of Mild Autism.  Journal of Neurotherapy, 1995.

THOMPSON, L.; THOMPSON, M.; REID, A.  Neurofeedback Outcomes in Clients with Asperger’s Syndrome. Appl Psychophysiol Biofeedback, Spring, 2009.

Um comentário:

  1. A apresentação sobre neurofeedback foi muito bem feita, mas vcs sinalizaram que os estudos não são conclusivos. Em relação a que? Quem não confere esta condição aos estudos? As informações são bem feitas e geram credibilidade, mas este comentário quebra um pouco a confiança na informação. Se forem mais precisas, acho que ajuda a saber o que merece mais cautela por parte do leitor. E, Claro, não esqueçam das fontes. Abs

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